segunda-feira, 21 de março de 2011

A gente se acostuma...

A gente se acostuma a salvar a pele dos outros,
sem receber um "obrigada".
A gente se acostuma a saciar a vontade dos outros
e nem pensar em quais são mesmo as nossas vontades.
Se acostuma a sonhar o sonho dos nossos pais,
avós, amigos, amores, e a deixar que sonhem por nós.
Se acostuma a estar num constante segundo plano,
lembrado só quando convém aos outros.
A gente se acostuma a deixar que escolham por nós, 
a decidirem por nós, a viverem por nós.
Acostumamos a fingir que não vemos as coisas erradas.
Acostumamos a ser expectadores de nossa própria vida,
e a assistir inerte os "vilões" roubarem nosso final feliz.
Acostumamos a querer pouco para não ser visto como
ambicioso. A andar de cabeça baixa para não ser arrogante.
A não conferir o troco para não parecer precisado.
A ser sacaneado e fingir que não se importa. A ser apunhalado
e fingir que não dói. A sorrir amarelo quando a piada somos nós.
Nos acostumamos por termos medo de parecermos ridículos,
para não parecermos encrenqueiros, chatos que contestam e
questionam tudo. Nos anulamos, nos omitimos, porque fugir
é mais fácil. Ficamos lá, escondidinhos na falsa proteção da omissão,
da covardia, e caímos então nesta armadilha.
Porque para aqueles que não sabem escolher,
a vida dá poucas opções. 

 - Renata Brasil
......................................................................................
Inspirado na obra de Marina Colasanti, " Eu sei, mas não devia ".