quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tic Tac

Tudo tem nome. Nem o nada conseguiu escapar ileso dessa nossa vontade compulsória de rotular, nomear, julgar.
Nomeamos tudo, rotulamos tudo. Não bastassem as coisas, demos o jeitinho de incluir as pessoas ( ou seria excluir as pessoas?) nessa listinha de rótulos.
Estamos tão sem tempo de conviver, de dialogar, que nós apenas simplificamos. Criamos logo um nome, um apelido, que funcione como um código de reconhecimento das pessoas. A "Maria sisuda", o "João tristonho", a "Sueli preguiçosa".
Não temos tempo para descobrir que a Maria é na verdade tão tímida que tenta se esconder detrás de uma cara fechada, uma testa franzida;
Não temos tempo para ver que o João não é realmente triste, não. Ele só estava cabisbaixo aquele determinado dia porque perdeu a namorada, seu time foi rebaixado, o novo cão estraçalhou o novo par de sapatos de couro legítimo comprado em 10 vezes no cartão; Nem temos tempo a perder com a Sueli, descobrindo que ela só ficou sentada o dia inteiro porque estava exausta após dar uma faxina na casa toda - daquelas que se tira tudo do armário e das gavetas - e, depois recebeu a visita de uns parentes distantes, incluindo dois sobrinhos de 3 e 4 anos cujas brincadeiras conhecidas resumiam-se à andar de cavalinho, brincar de índio, ou qualquer uma que acabasse com a coluna da titia.
Não podemos perder tempo com as pessoas, nem com conversas amenas, nem com olhares mais demorados. Precisamos nomear logo, rotular logo, julgar logo.
Precisamos conhecer as pessoas em menos de um dia e coletar o suficiente para poder encaixá-la numa categoria qualquer. Precisamos ser rápidos.
Essa postagem não termina nunca? Já se foram uns três minutos lendo isso. Leia mais depressa. Corra.
Precisamos de tempo livre para esbravejar com alguém, de mais tempo para ficarmos presos no trânsito, para jogarmos lixo no chão, para nos
sentirmos os seres mais vazios do mundo e dar um jeito de descontar toda nossa frustração em nosso próximo.
Precisamos ser rápidos para termos tempo de sobra para agirmos como perfeitos idiotas... E a perfeição leva tempo.

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